Teatro da Vilarinha
O Teatro da Vilarinha foi um sonho do Pé de Vento que se tornou realidade por uma conjugação de fatores que permitiu, em 1995, aglutinar várias vontades. A vontade que animava o Pé de Vento de reunir as condições indispensáveis à criação e produção artística num espaço único, capaz de acolher o público, nas melhores condições. A vontade do então Secretário de Estado da Cultura de proporcionar a instalação da Companhia num local permanente e apropriado ao exercício da sua atividade teatral. A vontade do Governo Civil do Porto de apoiar o desenvolvimento cultural da Cidade. A vontade da Câmara Municipal do Porto de participar na instalação do Pé de Vento; e de renovar e alargar, simultaneamente, o conjunto de salas de espetáculos então existentes no Porto. O apoio financeiro destas entidades, e ainda da CCDRNorte, tornou possível a concretização desse sonho.
Com a abertura do Teatro da Vilarinha, em Outubro de 1996, o público infanto-juvenil do Porto passou a usufruir de uma programação teatral própria. Os espetáculos levados à cena marcaram a atividade artística da Cidade ao longo de mais de duas décadas, tornando a cidade do Porto uma exceção a nível nacional por usufruir de uma sala de espetáculos destinada prioritariamente às crianças e jovens.
Num sintético balanço do trabalho desenvolvido em 22 anos, de 1996 a 2018, registámos que o Pé de Vento recebeu 185. 000 (cento e oitenta e cinco mil) espectadores nessa sala de 106 lugares, num total de 2.310 representações. Para atingir estes números, o Pé de Vento levou à cena 78 criações, com 41 espectáculos em estreia absoluta, a maioria dos quais em resultado de encomendas feitas a autores portugueses. Para além das criações e produções próprias, a equipa do Pé de Vento proporcionou a 89 grupos profissionais e não-profissionais as condições técnico-artísticas de que a sala dispunha para apresentarem os seus espetáculos, fossem eles de teatro, de música ou de dança.
A diversidade da programação apresentada contribuiu para o necessário cruzamento e divulgação de várias linguagens artísticas e de novas tendências estéticas, que atraiu novos públicos e manteve a assiduidade da maior parte dos nossos espectadores.
Pé de Vento não só alcançou a estabilização das suas correntes de público, como conseguiu ainda alargar a área geográfica de influência do Teatro da Vilarinha para além da Área Metropolitana do Porto.
O Teatro da Vilarinha constituiu, ao longo destes vinte e dois anos, o instrumento fundamental e imprescindível para o desenvolvimento da atividade permanente da Companhia.
O Teatro da Vilarinha existiu como unidade de criação e produção teatral ao longo de 22 anos (1996-2018), porque o Pé de Vento, como Companhia Residente, o edificou e o concebeu para esse efeito, de modo a fazer surgir no Porto um espaço com características próprias e únicas que privilegiasse os espectadores mais jovens.
O Teatro da Vilarinha, tal como o público infanto-juvenil e os professores o conheceram, bem como os colegas de profissão que acompanharam o nosso percurso, encerrou as suas portas no dia 28 de Outubro de 2018, com uma representação de “O Pássaro da Cabeça”, de Manuel António Pina.
Com este espetáculo, celebramos os 40 anos de atividade profissional do Pé de Vento – a terceira companhia mais antiga da Cidade – e homenageamos o autor e sócio fundador, Manuel António Pina. O seu nome está ligado, de modo indelével, ao nosso trajeto artístico.
Com uma programação orientada desde sempre para o público infanto-juvenil, esta Sala de Espetáculos acolheu dezenas de milhares de alunos das mais diversas instituições de ensino, não só do Porto e da sua área metropolitana, como de outras zonas do País, mantendo, ao longo de duas dezenas de anos, uma relação dinâmica com professores e educadores, muitos dos quais desenvolveram, nos seus estabelecimentos de ensino, trabalhos baseados em espetáculos nossos.
Mas essa relação estendeu-se ao público em geral, que ficou, igualmente, privado deste “espaço” onde era possível assistir com regularidade aos espetáculos do Pé de Vento e partilhar vivências teatrais únicas e irrepetíveis, através de uma cumplicidade que se foi consolidando ano após ano.
A saída do Pé de Vento do Teatro da Vilarinha, concebido, edificado e mantido com o apoio expresso de várias entidades públicas, fica a dever-se, exclusivamente, à decisão do Executivo da União das Freguesias de Aldoar, Foz do Douro e Nevogilde de avocar estas instalações.
Ao longo dos seus 22 anos de atividade, o Pé de Vento cumpriu todos os objetivos e compromissos que se tinha proposto atingir com a edificação do Teatro da Vilarinha. Desde logo, a nível local, com a intervenção ativa e continuada no território da Freguesia de Aldoar. Mas também perante os públicos da cidade do Porto e da sua Área Metropolitana, com uma renovada criação artística e uma programação constante. E, ainda, dando resposta às diversas solicitações das instituições culturais que se apresentaram neste palco. Por último, o Pé de Vento orgulha-se de ter correspondido a todos os compromissos que ao longo dos anos foi assumindo, tanto com os diversos Órgãos Autárquicos, como com as entidades Nacionais, nomeadamente, o Ministério da Cultura – Secretaria de Estado da Cultura / D-G Artes / Delegação Regional da Cultura.
Nota 4:
E assim, ao fim de 40 anos de atividade continuada na cidade do Porto, mais uma vez o Pé de Vento desmontou o seu espaço de trabalho - local de cumplicidade artística, ninho de criatividade, de encontros e desencontros estéticos - empacotou as suas memórias e armazenou o seu espólio – fragmentos do mundo “de faz de conta” que é a vida do próprio teatro.
Parafraseando Fernando Pessoa, apetece-nos perguntar:
(…)
Quando é que passará este drama sem teatro,
Ou este teatro sem drama,
E recolherei a casa?
Onde? Como? Quando?
(in: Álvaro de Campos, “Magnificat”)